Morreu neste sábado (17/8), aos 93 anos, o apresentador e empresário Silvio Santos, dono do SBT.
A informação do falecimento foi confirmada pelo SBT, que compartilhou a seguinte mensagem:
“Hoje o céu está alegre com a chegada do nosso amado Silvio Santos. Ele viveu 93 anos para levar felicidade e amor a todos os brasileiros.
A família é muito grata ao Brasil pelos mais de 65 anos de convivência com muita alegria. Para nós, o Senor Abravanel é ainda mais especial e somos muito felizes pelo presente que Deus nos deu e por todos os momentos maravilhosos que tivemos juntos. Aquele sorriso largo e voz tão familiar será para sempre lembrada com muita gratidão.Descansa em Paz que vc sempre será eterno em nossos corações.”
O apresentador faleceu em decorrência de uma broncopeneumonia após infecção por h1n1. Ele estava internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, desde o dia 1º de agosto.
Silvio Santos deixa sua viúva, Íris Abravanel, com quem era casado desde 1978, e suas filhas Daniela Patrícia, Rebeca e Renata. Ele também deixa as filhas Cíntia e Silvia, do primeiro casamento com Cidinha, que faleceu em 1977.
EU SOU UM ANIMADOR
O MAIS IMITADO, NUNCA IGUALADO
CEO do Grupo Aratu, Ana Coelho relembrou o encontro que teve com Silvio Santos na sede do SBT, em São Paulo. Em publicação nas redes sociais, a empresária conta que ficou nervosa ao entrar no estúdio do “Programa Silvio Santos” com o maior ícone da história da televisão brasileira.
“Antes de entrar no estúdio, pude compreender o impacto e magnetismo que certas figuras têm o poder de exercer. Sou incapaz de explicar o fenômeno, mas sei que eu fiquei nervosa com a sua presença e as suas brincadeiras e percebi por que algumas figuras se tornam maiores que suas próprias obras”, conta.
O encontro com Silvio ocorreu quando Ana, representando o Grupo Aratu, foi ao SBT discutir detalhes sobre o Carnaval de Salvador, que passou, destaca ela, a ter dimensão nacional “graças à sagacidade” do apresentador que passou mais tempo no comando de um programa no mundo: 60 anos. “A história de Silvio Santos atravessa gerações e se confunde com a história da produção audiovisual em nosso país”, exalta.
Ana Coelho classifica Silvio Santos como desbravador, ídolo e líder. Ela ressalta, ainda, que o apresentador é o mais imitado, mas enaltece: “Mas nunca igualado”.
INTERNAÇÃO DE SILVIO SANTOS
Em meados de julho, ele esteve no mesmo hospital para tratar um quadro de H1N1, recebeu alta, mas retornou 10 dias depois. O hospital não comenta o caso e não divulga boletins médicos, atendendo a pedidos da família.
Segundo o site F5, da Folha de S. Paulo, Silvio foi internado reclamando de cansaço e, por precaução, os médicos realizaram novos exames, que detectaram uma bactéria. Ele então começou um ciclo de antibióticos, dos quais apenas uma medicação surtiu efeito.
Na última quarta-feira (14/8), o neto de Silvio Santos, Tiago Abravanel, comentou sobre o estado de saúde do avô, afirmando que ainda não tinha visitado ele no hospital. “É super-restrito. Óbvio que a família está cuidando, mas graças a Deus ele está super bem e assistido por todos os médicos”, disse o ator e empresário, durante o lançamento da autobiografia de Preta Gil.
A TRAJETÓRIA DE UM DOS MAIORES NOMES DA TV BRASILEIRA
Considerado um dos maiores comunicadores da televisão brasileira, Silvio Santos, cujo nome de batismo é Senor Abravanel, nasceu em 12 de dezembro de 1930 no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro. Filho de imigrantes de origem judaica, ele foi o mais velho de cinco irmãos.
Durante sua trajetória, Silvio trabalhou como camelô vendendo canetas e capas de plástico para títulos de eleitor nas eleições de 1946. Além disso, atuou como locutor de rádio e serviu no Exército na Escola de Paraquedistas.
Em 1954, assinou seu primeiro contrato fixo como locutor na Rádio Nacional de São Paulo e, posteriormente, tornou-se animador do programa de Manuel de Nóbrega. Em 1962, estreou seu primeiro programa televisivo, o “Hit Parade”, na TV Paulista.
Silvio Santos também apresentou programas na TV Tupi e na TV Globo. Em 1975, adquiriu o Canal 11 do Rio de Janeiro e inaugurou a TVS. No ano seguinte, saiu da TV Globo e seu programa passou a ser transmitido nas TVs Tupi e TVS do Rio.
Em 1981, fundou o SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), onde o “Programa Silvio Santos” se tornou a principal atração. Seu carisma, bordões como “Vem pra cá, vem pra cá” e “Quem quer dinheiro?” e a capacidade de segurar o público por mais de dez horas fizeram dele um dos maiores nomes da televisão brasileira.
Em dezembro de 2020, Silvio Santos celebrou seus 90 anos, ao lado de suas filhas, sem festas públicas devido à pandemia. Após receber as duas doses da vacina, Silvio voltou a apresentar seu programa, em agosto de 2021, pela primeira vez desde 2019.
Algumas semanas após esse retorno, ele contraiu Covid-19 e precisou ser internado. Felizmente, ele se recuperou e retomou as gravações do programa, embora em um ritmo mais moderado.Ao som da música de abertura “Sílvio Santos vem aí”, ele entrou animado, brincando: “Para tudo, já estou aqui. Já cheguei!”. Essa foi a primeira de muitas brincadeiras para divertir o público em seu último programa.
UMA HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO E SUCESSOS
Assim pode ser definida a vida de Silvio Santos. Antes de se tornar um grande ícone da televisão brasileira e um dos maiores comunicadores do país, começou a vida como camelô. Depois, ao longo de décadas, acumulou pioneirismos, marcos e até se candidatou à presidência.
Confira, abaixo, algumas curiosidades sobre a vida de Silvio Santos:
Vendedor nato
Filho dos imigrantes judeus Alberto e Rebeca Abravanel, Silvio era o mais velho de cinco irmãos e, desde cedo, mostrou talento para os negócios. Estudou contabilidade e, nas horas vagas, trabalhava como camelô nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, vendendo canetas e capas de plástico para títulos de eleitor nas eleições de 1946. Nesse período, também começou a fazer pequenos trabalhos como locutor de rádio.
Bateu recorde
Em 1993, o “Programa Silvio Santos” entrou para o Guinness Book – o Livro dos Recordes – como o programa mais duradouro da televisão brasileira. A atração segue no ar, hoje com 63 anos de história e sob o comando de uma das filhas de Silvio, Patrícia Abravanel, desde o ano passado.
Candidatura à presidência
Um dos momentos mais marcantes da trajetória de Silvio foi a entrada dele na disputa pela presidência do Brasil, em 1989. A candidatura de foi oficializada em 31 de outubro de 1989, mas durou apenas dez dias, pois foi impugnada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 9 de novembro do mesmo ano. Originalmente, ele tentou se lançar pelo PFL (Partido da Frente Liberal) em substituição a Aureliano Chaves, mas acabou concorrendo pelo PMB (Partido Municipalista Brasileiro), hoje extinto.
Armando Corrêa, então candidato do PMB, renunciou duas semanas antes da eleição, permitindo que Silvio assumisse a candidatura. Isso gerou uma situação inusitada: para votar em Silvio Santos, os eleitores precisariam marcar o nome de Corrêa nas cédulas eleitorais, como o apresentador explicou em um vídeo de campanha. “A maior dificuldade minha é que o meu nome não aparece na cédula”, lamentou Silvio durante o horário eleitoral.
A candidatura relâmpago de Silvio Santos rapidamente conquistou cerca de 30% da preferência do eleitorado, segundo o site oficial do TSE. Naquele ano, seus principais concorrentes eram Fernando Collor de Mello (PRN), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Paulo Maluf (PDS) e Leonel Brizola (PDT).
O primeiro turno das eleições ocorreu em 15 de novembro de 1989, e Fernando Collor foi eleito presidente no segundo turno, em 17 de dezembro, com 46,96% dos votos, derrotando Luiz Inácio Lula da Silva.
SILVIO SANTOS É ETERNO E NÃO PODE SER VELADO
Em nota divulgada, a família Abravanel informou que, seguindo o desejo do próprio apresentador, não haverá cerimônia aberta ao público.
A nota destacava o desejo de Silvio Santos de ser celebrado em vida, sem que sua morte fosse explorada como um evento de ampla cobertura. O corpo será levado a um cemitério particular e sepultado diretamente.
Pablo Reis, jornalista e apresentador do Aratu Noticias, publicou um artigo comentando sobre o último desejo de Silvio Santos.
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Como a última imagem do brasileiro que mais mereceu o título de Homem Sorriso pode ser opaca, emudecida e de olhos encobertos? A família do maior comunicador da história do país acerta em evitar velório para o ícone. Silvio Santos é eterno, e jamais ficará no inconsciente coletivo nacional como um corpo velado, mesmo que a vontade de milhões fosse por um último adeus.
“Se minha mãe estivesse viva, hoje seria um dos piores dias da vida dela”, me confidencia o colega cinegrafista Zé Mário, ao fim da gravação de boletins sobre esse indesejado e dolorido fato. “Ela foi fã absoluta por 60 anos”. Quantas Marias estão se sentindo viúvas, quantas Patrícias ficaram órfãs, quantos Josés sentem que perderam um colega (de auditório ou não), quantos Pablos lamentam a perda de um ídolo?
Silvio Santos, o mito, não é apenas patrimônio da família Abravanel, mas toda uma nação. Portanto, zelar pela memória dele é compromisso de cada brasileiro, já que também nos tornamos um pouco parentes, ao longo de 60 anos de convivência diária.
Quem conhece a sede do SBT consegue entender um pouco melhor o porquê de ser chamado de gênio aquele que conseguiu ser camelô, empresário, banqueiro, showman até candidato a presidente da República sem ser contraditório. Em qualquer destas posições, havia o jeito Silvio Santos de ser. Até existe um memorial no SBT exibindo relíquias, objetos e momentos emblemáticos do ícone.
Só que não é no museu que está o maior tesouro do apresentador. Por estúdios, camarins, corredores e, sobretudo, entre as pessoas, há um espírito de Silvismo, um civismo impregnado de alegria.
Ao parar de respirar, ele deixa todo um segmento de televisão sem fôlego. Ao parar de bombear, sangue e novas ideias, ele cria um fosso que abala alicerces da mídia tradicional.
Em algum lugar, está sendo recebido com festa, ao som de “Silvio Santos vem aí”.